A tarde do dia 20 de setembro ficará para sempre na memória dos jovens e adolescentes do CRIA que estiveram presentes à Roda de Conversa: Arte-Educação e Projeto de Vida. O encontro foi realizado na Casa XIV do Teatro XVIII, no Pelourinho, no último dia (20.09) do III Festival de Arte-Educação A Cidade CRIA Cenários de Cidadania, e contou com mediação do professor da Faculdade de Educação da Ufba, Roberto Rabêllo.
Os ex-integrantes dos grupos artísticos do CRIA e hoje arte-educadores Sergio Bahialista, Nilton Lopes, Antonia Elita Santos, Ronald Alagan e Jedjane Mirtes contaram um pouco das suas histórias com a instituição e como essa experiência foi determinante para suas vidas!
Os ex-integrantes dos grupos artísticos do CRIA e hoje arte-educadores Sergio Bahialista, Nilton Lopes, Antonia Elita Santos, Ronald Alagan e Jedjane Mirtes contaram um pouco das suas histórias com a instituição e como essa experiência foi determinante para suas vidas!
Em um bate-papo descontraído, os convidados descreveram um pouco dessa relação de amor com o CRIA e a contribuição da arte no desenvolvimento de suas vidas, através de seus projetos!
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Antonia Elita
"Sou Antonia Elita Santos moradora do bairro de Sussuarana. Há 33 anos, comecei minha luta na comunidade quando vim morar aqui, onde não tinha água, energia e transporte. Comecei a participar da associação de moradores logo depois fundamos a Associação de Mulheres de Sussuarana para reivindicarmos melhorias para o bairro. Alguns anos depois, fundamos o centro de pastoral afro Heitor Frisoti, no qual trabalhei como secretária.
Nesse período, foi quando conheci o CRIA através de uma amiga, Maria Joscelia. As filhas dela já participavam mais e ela achava que o CRIA tinha a minha cara e acertou. Foi quando minha filha Danubia se inscreveu e passou na seleção e começou a participar da Tribo do Teatro. Algum tempo depois, teve seleção para um grupo novo do CRIA, Abe be omi. Fiz a seleção, passei e aí começou uma transformação na minha vida pessoal e social.
Foi um aprendizado muito grande, vivi momentos maravilhosos onde nunca pensei que pudesse atuar como atriz dinamizadora com toda essa formação. Mais uma vez com o incentivo do CRIA me inscrevi para ser conselheira tutelar onde fiquei por um período de oito anos que sempre foi e é uma das bandeiras do CRIA atuar em defesa das crianças e adolescentes.
Hoje, trabalho na Fundac como socioeducadora com adolescentes em conflito com a lei. No momento, estou fazendo faculdade de serviço social. Assim, o CRIA para mim é uma referência de vida. Uma vez CRIA, sempre CRIA. É uma instituição que muda o seu jeito de ser, de agir. Eu sempre falo: uma das minhas escolas de vida é o cria. Se for falar o que já fizemos aqui em nosso bairro e fora também junto com o CRIA... me ensinou muito a ser essa mulher forte e batalhadora. Por aí, passou minha filha, muitos jovens e adolescentes daqui da comunidade, minha neta, que hoje são sujeitos de transformação desta sociedade."
Jedjane Mirtes
Atual rainha do bloco afro Malê de Balê e segundo lugar do concurso Deusa do Ébano 2014 do Ilê Aiyê representando o Pelourinho, a arte-educadora, dançarina, coreógrafa e dançarina Jedjane Mirtes entrou no CRIA aos 17. Fez parte, como jovem atriz, dos grupos Tribo do Teatro, CRIA Poesia - este também como diretora -, além de espetáculos coletivos. Foi monitora de dança, depois coreógrafa dos grupos. Pelo CRIA, conheceu outros lugares fora do país, a exemplo da Alemanha e Portugal. Formou-se em técnica em dança pela Escola de Dança da Funceb, em 2001, e em Educação Física, em 2008. Mais tarde, cursou pós-graduação em Arte-Educação nas Faculdades Olga Mettig.
Até o início de 2014, atuava como educadora do projeto Corra pra o Abraço, parceria do CRIA com a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia, através do programa Pacto pela Vida. E além do seu reinado no Malê, Jedjane, hoje com 33 anos, atua como arte-educadora nas comunidades de Pernambués e Saramandaia, através do Instituto JCPM de Compromisso Social. E não para por aí. Ela também assina coreografias para a ONG Bumbá - Escola de Formação Artística e a Cia de Dança Jorge Lima e Chagas.
Niltom Lopes
Coordenador do núcleo de incidência da CIPÓ - Comunicação Interativa e sócio-fundador do coletivo de assessoria Crioula - Comunicação, Cultura e Mobilização Social.
Jornalista, formado pela Facom, pós- graduado em artes visuais no Senac e Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais pela UFMG.
Atualmente, é mestrando no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade.
No CRIA, fez parte do grupo Com Arte Sem AIDS, de 1999 a 2001. Depois, integrou o grupo Mais de Mil, em 2002 e 2003, e atuou como monitor, assistente e orientador do núcleo de comunicação, de 2003 a 2007.
Ronald Alagan
Entrou no CRIA aos catorze anos e durante cinco, participou dos grupos Mais de Mil, com as montagens Escola falta mais o que? e Quanto custa?, além do grupo Pais e Filhos, com o espetáculo Diálogos. Nesse tempo, desenvolveu na sua comunidade, em Paripe, o primeiro espetáculo, Quem somos nós? que falava da violência e das rixas que existiam na própria comunidade.
Para ele, quem entra no CRIA nunca sai, porque a ong utiliza a arte como transformação do cidadão. “A metodologia trabalha o ser humano e trabalha a educação que temos, a que queremos e que precisamos. Eu aprendi a ser educador popular, a ter um dever de reproduzir isso para nossas comunidades. Eu queria ser ator, mas eu sou ator educando-me e educando outro”. E cita experiências que o ajudaram em sua formação: conheceu o barro nos encontros do Ser-tão Brasil e aprendeu a reverenciar a delicadeza disso, foi a Londres onde participou de worskshop no Southbank Center, passou por Madri e Portugal. “Sem o CRIA, eu sozinho seria só um corpo”, afirma. E depois de tudo isso, ainda diz que precisa ingressar na universidade para cursar o bacharelado em direção.
Ronald diz estar se reconstruindo, depois da perda recente da mãe. “Porque a gente precisa de pernas pra andar. Mas, estou tranquilo, por ser cria do CRIA e de ter parido outras crias também”.
Sergio Bahialista
"Hoje, sou um homem especial nessa vida graças a esses 11 anos muito bem vividos no CRIA. Feliz por ver esse belo lugar completar 20 anos de existência, de semeação de muitos sonhos e sementes de uma nova humanidade."
Sérgio é Mestre em Educação e Contemporaneidade pelo Programa de Pós Graduação em Educação e Contemporaneidade - PPGEduc - da UNEB. Possui especialização em Psicopedagogia Escolar e Clínica e graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia. Atualmente é Professor e Coordenador Pedagógico da Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC - Salvador/BA; pesquisador do PRODESE - Programa Descolonização e Educação CNPQ/UNEB; músico e cordelista. É um dos autores do livro "Descolonização e Educação: diálogos e proposições metodológicas";, organizado pela Prof. Drª Narcimária Correia do Patrocínio Luz.
"Em 1996, o CRIA foi no Colégio Estadual Governador Roberto Santos com o espetáculo Escola falta mais o quê? . Belíssimo! Após o espetáculo, Carla Lopes divulgou a seleção para jovem ator multiplicador para a Tribo do Teatro, que encenava o espetáculo Quem Descobriu o Amor?. Fiz o processo de identificação e fui aprovado.
A partir daí, um divisor de águas na minha vida nunca mais parou de passar. Fiz parte dos grupos de teatro, poesia e equipe profissional do CRIA de 1996 a 2007. Isso mesmo! Foram 11 anos da minha vida CRIAndo e plantando muita arte-educação pela vida, aprendendo a ser mais gente e gerando uma nova Tribo Humana. Fiz parte da Tribo do Teatro, Com Arte Sem Aids, CRIA Poesia, Espetáculo Liberdade da Bahia, além integrar o Núcleo de Produção Cultural e o Núcleo das Artes do CRIA durante esses anos, desde monitor até Orientador Artistico-Pedagógico. Fiz parte do MIAC e da Rede Ser-tão Brasil também. Lindos coletivos e incríveis forças de mobilização social através da arte. E com beleza toda em torno de mim, eu ande. É findo em beleza!"