Foram apresentações de quatro grupos do CRIA, o Pessoa Comum, Iyá de Erê, Mais de Mil e CRIA Poesia, que encantaram o público nesta grande ação de formação de platéia promovida pelo CRIA.
"Gostei muito do espetáculo, já trouxe duas turmas para assistir as peças porque são temas contextualizados e as crianças se veem neles. É muito interessante!" diz a professora Márcia Souza.
Capoeira, candomblé, samba, brincadeiras, história, gírias e poesias, cada espetácúlo do CRIA aborda temas que estão presentes na vida dos jovens e por isso tanta identificação do público com as montagens.
Na platéia, as crianças observavam a atuação dos jovens no palco com um olhar misto de curiosidade e admiração. Muitos cochichos e gargalhadas durante a apresentação, após a peça sempre acontece um bate-papo com o público e era neste momento que os meninos e meninas da platéia aproveitavam, e mesmo cheios de vergonha perguntavam tudo: "Como é seu personagem?", "As crianças de 10 anos podem entrar no grupo de teatro?", "Quantos tempo demorou pra vocês aprenderem isso?".
Mas nem só através de perguntas a platéia se fez presente durante as apresentações da temporada do Circuito Comunitário no Engenho Velho de Brotas. O grupo CRIA Poesia apresentou o recital cênico Poesia em Construção que reúne mais de 20 poemas de diversos autores. Ao final, as crianças da platéia apresentaram seus versos, depois rimas, e logo um pequeno grupo formado por quatro jovens estudantes estavam cantando uma música de hip hop que eles fizeram juntos.
Um dos poemas que fazem parte do recital cênico do CRIA Poesia é Jovita, do poeta paraibano Amazon. Confira os versos.
JOVITA
Amazan
Jovita de João Vicente / Viúva de Nicolau / Depois de um acidente / Num dia de carnaval / Prum hospital foi levada / E depois de internada / Entrou em coma profundo / Ficou um mês apagada / Passando uma temporada / Nas brenhas do outro mundo /
Porém num dos sonhos seus / Muito contente ficou / Pois se encontrou com Deus / E o salvador lhe falou / Você pode retornar / Lá pra terra e ficar / Pondo em prática novos planos / A nada deve temer / Porque só irá morrer / Daqui a quarenta anos. /
Jovita, uma véia feia / Dessas que assombram o povo / As pernas cheias de veia / Cintura larga de ovo / O narigão de tucano / As orelhas de abano / Canela de bem-te-vi / Fazia alguma ginástica / Mas nunca fez uma plástica / Com medo do bisturi. /
Porém depois que saiu / Do coma, tranqüilamente / Porque Deus lhe garantiu / Quarenta anos pra frente / Chamou um cirurgião / Fez logo uma relação / Do que queria ajeitar / Testa, nariz, sobrancelha / Pescoço, bochecha, orelha / Nada podia faltar. /
Fez uma lipoescultura / Deu um trato no cabelo / Ficou com a estatura / E o corpo de uma modelo / O busto siliconado / O bumbum arrebitado / Pele fina, reluzente / Recebeu alta, afinal / Mas na frente do hospital / Sofreu um trágico acidente. /
Um acidente fatal / Vejam só que resultado / Na frente do hospital / Onde tinha se operado / Mas foi o que aconteceu / Jovita as botas bateu / Foi vela preta e caixão / E quando chegou no céu / Procurou o pai fiel / Pedindo uma explicação. / Me responda, Pai amado / quero saber, por favor / conversamos mês passado / e na conversa o Senhor / me garantiu sem segredo / que eu não morria tão cedo / mas, no entanto, eu morri. / E Deus respondeu seguro: / Jovita, desculpe, eu juro /que não lhe reconheci!
Nenhum comentário :
Postar um comentário